HENRIQUE PORTUGAL
NOME: Antônio Henrique Rocha Portugal
DATA DE NASCIMENTO: 19 de Março de 1965
LOCAL DE NASCIMENTO: Belo Horizonte - MG
TIME: Cruzeiro
INSTRUMENTOS: Vocal, Teclado e Violão
Formado em economia pela PUC-Minas, chegou a trabalhar como analista de sistemas. Durante sua carreira como músico, chegou a tocar com a banda Sepultura no início de sua carreira musical e a fazer parte da banda Pouso Alto, junto de Samuel Rosa.
Em 2001, participou como baterista do álbum Acústicos & Valvulados da banda de mesmo nome. (http://www.dicionariompb.com.br/skank</ref>)
Em 2007, participou do álbum Goodbyealô, da banda Udora.
Além de ser um dos fundadores e membros do Skank, apresenta o Programa "Frente" na rádio UOL que também é retransmitido para rádios de Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro e Paraná, dando espaço na mídia para bandas independentes e em início de carreira.
Cruzeirense apaixonado, Henrique escreve a parte do Cruzeiro da coluna "Da Arquibancada" no estado de minas.
Um pouco mais de Henrique
É comum as pessoas imaginarem que os interesses de um profissional giram em torno de sua área de atuação, e isso não é diferente com os músicos. Além do Henrique músico, quais são os assuntos profissionais que mais te interessam?
Henrique Portugal: A maioria deles é ligada à própria música. Por exemplo, pela história dos cartões (palhetas), que deve ter sido muito bacana aí (em 2012 a EM&T produziu em parceria com o Frente Digital cartões palheta comemorativos aos 15 anos do IG&T), o povo deve gostar muito. Como a música, num outro lugar da área digital, por exemplo, eu invisto em uma empresa de tecnologia - na verdade é mais um fundo, que só investe na área tecnológica. Uma das empresas que eles investem, que se chama CromoUp, que é muito bacana: é um álbum, como se fosse de figurinhas, mas com vídeos. Isso é um negócio muito bacana, a gente começou com a Claudia Leitte, depois fizemos com o Padre Fabio de Mello, que está sendo legal. Se você imaginar, a gravação de um álbum é como uma startup onde você tem uma ideia boa. Você registra essa ideia em fitas demo e “investidores anjo” - que às vezes é pai dos músicos ou o próprio artista) - e você está ali “tentando fazer com que seu sonho se torne realidade”.
A música está indo para um segmento digital, aliás, já está quase toda lá. Fora do Brasil até mais - voltei de Barcelona e estava vendo justamente sobre isso. Acabei investindo numa plataforma digital que é o Pleimo. O artista quando é novo, a única coisa que ele sabe fazer é tocar as músicas dele. Ele não sabe gravar, divulgar e registrar a música. Ele não sabe fazer a camiseta pra vendar e ganhar dinheiro. Não sabe se promover.
Como existe uma conta da AFPI, em que 93% da música no mundo é independente, basta ver no Brasil quem tem e quem não tem gravadora - os números são minúsculos. Hoje tá tudo muito solto, poucos artistas sabem fazer realmente o que tem de ser feito. E a história do Pleimo é justamente prestar serviço para o artista: você registra e vende sua música direto. Vende seu merchandising, seus ingressos e faz seu crowdfunding.
Isso tudo através dessa plataforma?
HP: Esse serviço, por incrível que pareça, eu já conheço há três anos, mas na época eu achava inovador demais. Só que hoje ele é inovador, mas é realizável. Esse projeto já estava no ar, mas a gente tinha parceria, por exemplo, na parte de merchandising com uma empresa alemã. Então a banda brasileira botava o produto dela para vender, mas o produto vinha da Alemanha. Difícil demais. Então nosso papel nos últimos meses foi misturar tudo para que pudesse andar e funcionar na America do Sul. Agora, está ficando pronto o aplicativo mobile para que as pessoas possam escutar as músicas, fazer pesquisa. O foco é exatamente para o artista independente: ele grava, sobe a música - sem editora nem nada - e vende sua música, camiseta, faz a capa do disco.
Uma coisa na música independente é que quando você compra uma camiseta - você não está apenas comprando uma camiseta, você está levantando uma bandeira. Tem todo um desdobramento. A maioria dos players novos, por uma questão clara, buscam parcerias com os maiores e os mais fortes. E obviamente as regras são para os maiores e os mais fortes. No nosso caso, é diferente porque a gente tá começando justamente com o que não interessa aos grandes. Então esse é o foco do Pleimo.
Sobre o colunista / comentarista de futebol, qual o peso e quanto de seu tempo você dedica a coluna que mantém no Jornal Estado de Minas?
HP: Eu escrevo uma vez por semana e, por mais que eu escreva simplesmente aquilo que a gente discute nos bares e nas conversas com os amigos, eu não sou colunista para ficar fazendo análise tática. A minha análise é muito mais de torcedor que tática. Eu já calculei e gasto, com pesquisa e tudo, de cinco a oito horas.
Você dedica um bom tempo da sua semana para escrever a coluna. Acredito que seja gratificante pra você.
HP: Para mim é ótimo. Acho que estou desenvolvendo muito esse lado. Uma coisa é você pensar e outra coisa é colocar no papel de forma organizada, estruturada. Eu sou formado em Economia - não sou jornalista e para mim é uma forma de aprendizado muito legal e está sendo ótimo. Tem uns limites que são interessantes porque o Skank tem fãs cruzeirenses e atleticanos, então eu tenho que manter uma linha tênue para não agredir os leitores.
Você já teve alguma experiência nesse sentido? Já teve alguma provocação ou problemas com fãs da banda pelo que escreve sobre futebol?
HP: Tem uma coisa que acontece muito na internet que são os “corajosos do teclado”. E os “corajosos do teclado” sempre aparecem, mas normalmente quando você os encontra, esses caras relaxam - desde que eu não tenha sido muito agressivo. Então pra mim sempre foi tranquilo porque mantive essa linha. As pessoas me conhecem, mas eu não as conheço, né? Então posso tomar uma surra na rua e nem saber de onde veio (risos).
Você pretende continuar escrevendo?
HP: Eu gostei muito dessa história de escrever. Mesmo que essa coluna chegue ao fim, eu vou continuar escrevendo. Seja sobre tecnologia, seja sobre música, eu vou continuar escrevendo. Achei muita boa a experiência.
Você fez uma palestra no primeiro semestre para o TEDx UFMG. Além dessa, você tem feito palestras com frequência? Quais são os temas abordados em suas palestras?
HP: Normalmente eu falo sobre tecnologia, sempre ligada à música, falo sobre inovação. O músico tem um grande problema, como falei no início, de ter foco da entrega. Às vezes o músico grava sua música no computador e por ali a música fica. Então a maioria deles, dificilmente, consegue chegar até o final, que é gravar sua música e colocá-la para que as pessoas possam escutá-la da maneira mais organizada, mais estruturada e bem acabada.
Então, nessa ultima palestra que fiz foi sobre o caos, chamada “Viva o Caos”, eu falei sobre o caos criativo, porque acho que a criatividade está muito ligada ao caos, mas que seja uma criatividade organizada que tenha inicio, meio e fim. E que isso já existe na música, por exemplo, quando falo de um blues: você tem um espaço para que o guitarrista sole e para que o baterista ou tecladista faça seu solo. Isso tem muito também no jazz, que talvez seja o estilo musical mais forte nisso. Os músicos já sabem quando começa o solo de um e quando termina. A música tem isso de forma natural, porque existe uma matemática na música: “você vai ter 16 compassos, ou o outro terá mais de 16”. Então existe uma entrega: a música vai começar tal hora e vai terminar tal hora e, dentro desse pedaço da musica, vai ser um espaço de criatividade. Então, você sabe que vai ter uma coisa inovadora ali, mas que vai ter uma entrega, um final. Talvez seja até uma referência para outras áreas, você pensar dessa forma. Então eu falei muito disso no TEDx, e falei uma coisa legal, que até me emocionou no final, que é a história do “pense diferente”. O Skank é consequência de um sonho impossível: uma banda de reggae de Belo Horizonte alcançando sucesso internacional.
A experiência de palco numa palestra e num show podem ser comparadas? A experiência como músico ajuda nesse processo?
HP: A experiência de banda ajuda bastante. Estou fazendo palestras e, na maioria das vezes, estou sozinho, então é diferente a forma com que você se relaciona. Mas como minha historia é relativamente longa, acaba trazendo um conteúdo muito interessante para a palestra, principalmente para quem está começando. Tenho uma banda de BH, uma plataforma de música, um projeto de orgânicos. Eu procuro nunca me sentir acomodado - estou sempre procurando coisas novas e, não só falando, mas aprendendo, escutando pessoas mais velhas e mais novas, de aéreas diferentes. Tudo é aprendizado e acabo colocando isso no Skank.
Como empresário, no Programa Frente, você investe e incentiva o trabalho de artistas independentes. Vocês já produziram mais de 100 edições do programa e já trabalharam com mais de 500 bandas. Quais as experiências mais gratificantes você pôde extrair desse período?
HP: O que eu acho mais legal é o respeito que a cena independente tem pelo Frente, acho isso muito bacana. Todo mundo sabe que não é uma coisa gigante, que não dá uma visibilidade estratosférica, mas é um programa legal para o artista independente. Não é sensacional, mas é uma coisa extremamente respeitosa com os artistas. E a música tá muito assim: hoje não existe mais aquele tiro de canhão onde você diz: “vou aparecer em tal lugar e isso vai mudar a minha vida”. Mudou bastante e você tem vários programas que atingem tipos de músicas diferentes. O Frente é um programa feito muito mais por ideologia que por questão mercadológica.
Você não acredita que isso sempre aconteceu e o que mudou é que temos mais acesso à informação?
HP: Acho que não. Inclusive essa é uma ideia do próprio Pleimo. Ele não é uma plataforma para ser um buraco negro para todo mundo colocar suas musicas lá. Para que o artista tenha todos os serviços à disposição dele, ele tem que pagar uma assinatura. E só vai pagar quem realmente quer trabalhar. Porque manter servidores cheios de ideias e músicas é caro. Então como antigamente era caro gravar uma música, nem todos finalizavam. Então essa seleção natural, antigamente, acontecia de maneira mais fácil. Acredito que é o que vai acontecer daqui para frente. Eu não acredito nos buracos negros e nem acredito que a internet será um lugar gratuito. Todos os bons serviços hoje em dia são pagos.
Uma coisa muito interessante sobre música pirata que o Steve Jobs falava, era que tem gente que fala que não vai comprar música, “ah eu baixo da internet”, mas “quanto custa a sua hora para ficar procurando uma música na internet?” Não seria muito mais barato você comprar a música que ficar gastando seu precioso tempo na internet? Mas o mundo está aprendendo que pode ter um conteúdo de qualidade a um preço razoável.
Fale um pouco sobre o 1000Q Card, os cartões palheta que permitem que músicos e bandas possam ter um meio físico de baixo custo para distribuir o seu trabalho, mas que ao mesmo tempo é digital. Como surgiu a ideia de trazer para o Brasil esse produto?
HP: É uma coisa interessante, é um projeto que eu estou juntando com o Pleimo. Legal que as pessoas ficam com dó de tirar a palheta. Eu acho que é um dos caminhos. A música vai ser digital, mas uma parte dela será física. Os hits da música serão digitais, mas quem gosta de música vai acabar comprando o álbum do artista. No caso da palheta, é uma coisa intermediária. Nem sempre você tem acesso à infraestrutura que possa fazer com que você baixe a música e escute na hora. Então o cartão é uma forma do artista conseguir uma remuneração pela sua música em lugares que não têm infraestrutura. São formas diferentes de ganhar dinheiro. É o que o músico tem que pensar, a pessoa que vai ao show pode levar aquilo para casa para ouvir depois. Então a historia do cartão é uma forma de você viabilizar isso.
Do ponto de vista mercadológico, como é o cenário brasileiro para os artistas independentes? Melhorou comparando com a época em que você começou com o Skank?
HP: O mercado brasileiro atual de música independente é muito parecido. Aparentemente, se você olhar o mercado você fala que está muito difícil. Ele está muito difícil para quem quer brincar. Brincar de ser artista. Ser artista no Brasil não é uma coisa muito fácil. Pra quem quer brincar está difícil, mas em compensação você tem a internet e todos os softwares para disponibilizar música. São os “buracos negros”. Você ‘acha’ que botou sua música para que as pessoas possam escutar, mas ninguém encontra sua música porque na internet, se você não tiver uma forma organizada de colocar sua música, ela nunca terá destaque - ela está lá, mas ninguém vai achar. De certa forma, hoje você tem mais recursos do que da época que a gente começou.
Antes, para mandar uma música, tínhamos que enviar uma carta registrada pelos Correios - não tinha nem Sedex. Hoje em dia você envia um email para jornalista, se fizer uma capinha legal, uma gravação boa.
Hoje, gasta-se muito mais tempo divulgando projetos mal acabados do que se gasta desenvolvendo bons projetos. Gravar uma música era muito caro, então se gastava muito mais tempo projetando, ensaiando e arranjando antes de ir para o estúdio. Hoje em dia não. A pessoa, que gravou qualquer coisa em 15 minutos, fica dois dias tentando divulgar na internet aquela brincadeira.
É um dos pontos negativos dos dias atuais?
HP: Com certeza. Gastam 15 minutos para fazer e dias para divulgar. Até insistem muito para eu escutar sua música e digo para fazerem os amigos escutarem antes de trazerem a mim. Uma das coisas que aprendi é que não se pode ajudar muito as pessoas. Ajuda-se até certo ponto e espera-se que elas façam o resto do caminho. Se você ajudar demais, daqui a pouco estão reclamando que não está ajudando o suficiente. Mas se você não gasta seu tempo com a sua ideia, porque eu devo gastar o meu? A tecnologia facilitou, mas ao mesmo tempo produz muito lixo. Apenas 10% das coisas que eu recebo é interessante.
Você acredita que esse possa ser um produto que substitua os formatos tradicionais de distribuição de música, como CDs e LPs ou seria uma espécie de cartão de visitas para os artistas?
HP: Hoje você compra um CD para dar de presente ou porque não assinou ainda um serviço digital. Mas nunca se escutou tanta música como se escuta hoje. Porque hoje todo mundo anda “pendurado” com um aparelhinho digital, seja um relógio, um celular, um dispositivo - tudo tem música. O problema é como o artista será remunerado por tanta música que esta sendo executada.
Dos gadgets e serviços online que temos hoje, como smartphones, tablets, smart tvs, Facebook, Twitter etc, produtos que não existiam e você talvez sequer sonhasse que existiriam um dia na sua adolescência, qual deles você não saberia viver sem hoje?
HP: Um que eu diria que é imprescindível é o smartphone - com ele você resolve 90% das coisas. O tablet também é uma coisa muito legal, porque computador é uma coisa muito pesada para carregar. Basta eu ter uma telinha, um teclado e acesso à internet para que eu possa acessar meus dados que estão em algum lugar. No mundo, tudo o que puder ser digital, será digital por uma questão de praticidade e sustentabilidade. Nos países mais desenvolvidos, as pessoas já trabalham só aquilo o que elas precisam trabalhar - não existe mais aquele papo de trabalhar em excesso, pois não precisa. É o conceito de acúmulo de riqueza. E com a tecnologia é assim também, a gente tem que usar a tecnologia para viabilizar o mundo, senão vamos acabar com ele. E quando falamos em saco de lixo biodegradável e em reciclar lixo, estamos falando da criatividade também.
Com tudo isso, você consegue se desconectar nos dias de hoje?
HP: Eu estou na fase de aprendizagem (risos). Antes eu comprava compulsivamente todos os “brinquedinhos que saíam”. Mas não compro mais todos. Eu falaria que é o “um passo atrás”, que quer dizer um passo atrás da novidade extrema: eu sei como funciona a novidade extrema, mas eu sei que existe um custo muito alto para obtê-la. Porque às vezes ela não se conecta com tudo, não tem drivers compatíveis, não é todo serviço que se conecta com tudo. Então, um passo atrás permite que você tenha tranquilidade tecnológica para que tudo funcione.
Quais são os planos do Skank para esse ano?
HP: Entramos em estúdio e vamos lançar um disco novo em breve. Ainda não tenho mais detalhes, mas esse ano tem disco novo.
Gostaria de deixar um recado para os leitores do Território da Música?
HP: O famoso “pense diferente”, mas pense de forma organizada. Eu acredito que a música brasileira terá uma visibilidade muito boa nos próximos três anos. Que seja por causa de Copa do Mundo, que seja por causa de Olimpíadas. Então, se organize. Não só sonhe e crie em casa, mas se organize, pois é possível viver de música no Brasil.